Ensinando discípulos – parte 2

VERSO PARA MEMORIZAR:
"Pois o próprio Filho do Homem não veio para ser servido, mas para servir e dar a Sua vida em resgate por muitos’’ (Marcos 10:45).

Leituras da semana:
Marcos 10; Gênesis 1:27; 2:24; Gálatas 4:1, 2; Romanos 6:1-11; Isaías 11:1-16.
Nesta semana iremos estudar Marcos 10, onde finalizamos uma parte importante sobre o que Jesus ensinava aos Seus discípulos antes de ir para a cruz. A outra metade do capítulo foca nos ensinamentos aos discípulos, e também em conversas com outras pessoas que encontraram Jesus.

Os fariseus vêm e discutem com Ele sobre o assunto do divórcio. Os pais levam seus filhos para que Jesus os abençoe. Um homem rico pergunta sobre a vida eterna e um cego pede para ver.

O capítulo 10 de Marcos traz ensinamentos importantes sobre o que é realmente seguir Jesus, especialmente no que se refere a assuntos como casamento, filhos, como não se deixar cegar pela riqueza, e por último, as exigências e o prêmio de seguir a Cristo. Para confirmar, é relatada a cura de um segundo cego (Marcos 10:46-52; compare com Marcos 8:22-26), que encerra a seção (Marcos 8:22-10:52) e ilustra de maneira muito bonita o custo e os resultados de seguir Jesus.

Juntas, essas lições preparam os seguidores de Jesus – sejam os discípulos de 2 mil anos atrás ou os discípulos do século 21 – para os desafios que acompanham o chamado para o discipulado.

* Estude a lição desta semana para se preparar para o Sábado,24 de Agosto.

Casa transformada em igreja

Meu pai manteve sua palavra sobre a organização de cultos de domingo em casa, na Armênia. Tendo proibido a mãe e a filha, Anush, de irem à Igreja Adventista do Sétimo Dia, ele as chamou à sala de estar no Sábado de manhã. Para a Escola Sabatina, eles estudaram o Guia de Estudo Bíblico da Escola Sabatina para Adultos e oraram juntos. Então Anush pregou um breve sermão.

Os cultos de adoração continuaram por meses. Meu pai, que nunca havia visitado uma igreja Adventista, levava tão a sério os cultos de adoração que, se houvesse convidados, ele os convidava para a sala de estar, abria sua Bíblia e dizia: “Bem-vindos ao nosso culto de adoração. Hoje é Sábado e você pode se juntar a nós.” Este não era o caminho arménio. Na Armênia, os anfitriões deixam tudo para entreter os convidados. Os convidados ficaram chocados e se perguntaram o que estava acontecendo.

Enquanto a família adorava junta, meu pai percebeu que não conhecia a Bíblia. Em Mateus 4, a família leu como Jesus enfrentou todas as tentações de Satanás com as palavras: “Está escrito”. Papai ficou impressionado. Ele viu que não saberia se Satanás o estava tentando se não conhecesse a Bíblia. A partir daquele dia, ele começou a ler a Bíblia diariamente. À medida que lia, ele também procurava respostas para a razão pela qual ele e a sua família adoravam no Sétimo Dia, Sábado, enquanto muitos cristãos na Arménia adoravam no primeiro dia, domingo.

Meu pai havia jurado que Anush e minha mãe nunca mais voltariam para a Igreja Adventista e ele queria manter sua palavra. Anush muito faltou aos cultos da igreja, mas escondeu seus sentimentos porque entendeu que seu dever era amar seu pai e esperar que Deus o levasse ao arrependimento.

Mas quando ela soube que a igreja Adventista doméstica em sua cidade estava se preparando para um Sábado de comunhão, ela pediu permissão ao pai para ir. A Arménia é uma sociedade em grande parte patriarcal, onde muitos pais são os decisores do agregado familiar. “Você nos permitiria participar do serviço de comunhão?” ela perguntou.

"Comunhão?" O pai disse. “Sabe, eu também posso liderar essa cerimônia.”

Ninguém foi à comunhão naquele Sábado.

Então pai e mãe tornaram-se avós. Anush tinha uma irmã mais velha que se casou e saiu de casa e deu à luz um bebê. A mãe soube que o bebê e o resto da família haviam sido encorajados em oração na igreja. “Eles oraram por nós na igreja e quero levar algo doce para eles como presente de agradecimento”, disse ela ao pai.

O coração do pai foi tocado pela bondade dos membros da igreja e ele permitiu que Anush e a mãe voltassem para a igreja.

O plano de Deus para o casamento

Leia Marcos 10:1-12; Genesis 1:27; 2:24. Que armadilha estava escondida na pergunta dos fariseus sobre o divórcio? Que lições Jesus ensinou?

Os fariseus fizeram uma pergunta a Jesus para saber se era aceitável para um homem divorciar-se de sua esposa. Naquela época, o divórcio era permitido entre os fariseus, mas eles questionaram Jesus para ver se ele se desviava das leis. Dois rabinos famosos na época discutiam quando o divórcio era aceitável. A escola de Shammai tinha regras mais rígidas, permitindo divórcio apenas em casos sérios como infidelidade. Por outro lado, a escola de Hillel era mais flexível, permitindo divórcio por quase qualquer motivo.

Então, parece estranho que os fariseus tinham feito a Jesus uma pergunta mais abrangente: se o divórcio era aceitável. Por trás dessa pergunta havia uma conspiração para colocar Jesus em apuros com Herodes Antipas, o governante da região a leste do Jordão, onde Jesus estava naquele momento. Antipas havia se divorciado da esposa e se casado com Herodias, esposa do próprio irmão. Herodes decapitou João Batista por ter condenado esse relacionamento ilícito (ver Mateus 14:1-12).

Jesus respondeu aos fariseus referindo-se ao que Moisés ordenou, como está escrito em Deuteronômio 24:1-4, destacando que, embora Moisés tenha permitido o divórcio por causa da dureza dos corações, desde o princípio não foi assim. Ele apontou que a lei mosaica, como em Deuteronômio 24:1-4, foi projetada para proteger a mulher, mas as disposições sobre o divórcio foram mal interpretadas para facilitar o divórcio mais do que proteger a parte vulnerável.

Ele debateu então sobre a ideia de casamento como delineado em Gênesis 1:27 e Gênesis 2:24, enfatizando que Deus criou o homem e a mulher, uniu-os em matrimônio, e que essa união deveria ser vista como sagrada e permanente. Jesus reforçou que o que Deus uniu, ninguém deveria separar, destacando a santidade e a permanência do matrimônio.

Como fortalecer os casamentos na igreja e ajudar aqueles cujo relacionamento foi desfeito?

Jesus e as crianças

Leia Marcos 10:13-16. O que Jesus fez pelos que levaram as crianças até Ele?

Embora as crianças fossem desejadas no mundo antigo (especialmente os meninos, na cultura predominantemente masculina), o nascimento e a infância não eram fáceis. Os riscos de morte eram elevados: para as mães durante o parto e para os recém-nascidos, bebês e crianças. Muitas culturas usavam medicamentos tradicionais e amuletos para proteger essas pessoas vulneráveis contra supostas forças malignas.

As crianças ocupavam uma posição social inferior, semelhante à dos escravos (Gálatas 4:1, 2). No mundo greco-romano, crianças com deficiências físicas ou que fossem indesejáveis eram expostas, ou jogadas em um rio. Os meninos eram mais valorizados que as meninas; às vezes, meninas eram deixadas para morrer na natureza. Algumas vezes bebês abandonados eram “resgatados” para serem criados e vendidos como escravos.

Os discípulos não entenderam o conceito de receber o Reino de Deus como uma criança (Marcos 9:33-37). Então, repreendiam os que levavam crianças a Jesus para serem abençoadas, talvez pensando que Ele não tivesse tempo para uma tarefa tão simples.

Eles estavam errados. Jesus ficou indignado. No Evangelho de Marcos, Jesus tem reações surpreendentes em relação às pessoas, e é interessante que uma de Suas fortes reações tenha sido em relação às pessoas que queriam afastar Dele as crianças.

Jesus insistiu que os discípulos não deveriam impedir as crianças. Por quê? Porque o Reino de Deus pertence a elas, e devemos recebê-lo na atitude de uma criança – pureza e confiança simples e irrestrita em Deus.

“Não deixem que seu caráter não cristão represente mal a Jesus. Não mantenham os pequeninos afastados Dele por sua frieza e aspereza. Nunca lhes deem motivos de pensar que o Céu não seria um lugar agradável para eles, se lá estivessem.

“Não falem de religião como de uma coisa que as crianças não possam compreender. Não procedam como se ao se achegarem delas fosse aceitação a Cristo […] Não lhes deem a falsa impressão de que […] elas devem renunciar a tudo quanto faz a vida agradável” (Ellen G. White, A Ciência do Bom Viver [CPB, 2021], p. 21).

Como você pode revelar melhor Jesus ás crianças que estão ao seu redor?

O melhor investimento

Que lições essenciais sobre a fé e o custo do discipulado, para qualquer pessoa, rica ou pobre, são revelados em Marcos 10:17-31?

As atitudes do homem indicam sua sinceridade e seu respeito por Jesus. Ele correu, ajoelhou-se diante Dele e fez a pergunta central para o destino de cada pessoa: Quais são os requisitos para herdar a vida eterna? Jesus respondeu citando a segunda tábua do Decálogo. Novamente, o homem mostrou seu idealismo ao dizer que guardava tudo aquilo desde a juventude.

Dos quatro evangelhos, só Marcos observa que Jesus amou aquele homem (Marcos 10:21). Há algo atrativo no idealismo do homem. Mas Jesus testou a sinceridade dele pedindo-lhe que vendesse tudo e O seguisse. O homem saiu desanimado, porque tinha muitas propriedades. Ele não estava realmente guardando os mandamentos. Ele quebrava o primeiro, colocando algo acima de Deus. Suas riquezas eram seu ídolo.

Jesus então explicou como as riquezas são sedutoras e disse que é mais fácil um animal grande como um camelo passar pelo minúsculo buraco de uma agulha do que um rico entrar no Céu.

Os discípulos ficaram surpresos com as palavras de Jesus e perguntaram quem, então, poderia ser salvo. Jesus apresentou a moral da história: Para os seres humanos é impossível; contudo, não para Deus, porque para Deus tudo é possível (Marcos 10:27).

Marcos 10:27 oferece a última conclusão da história: não chegaremos ao Céu por nossos próprios esforços; precisamos da graça de Deus para sermos salvos.

Mas então Pedro deixou escapar que ele e seus colegas haviam deixado tudo para seguir Jesus. O Mestre respondeu que tudo o que deixamos para segui-Lo não é nada comparado com o que vamos receber agora e “no mundo por vir”.

Este é o ponto principal: a solução para a culpa humana e a morte é Cristo; portanto, é a graça de Cristo e Sua ressurreição que nos capacitam a obedecer aos mandamentos.

Leia Romanos 6:1-11. De que modo esses versos revelam a realidade da graça de Deus em nossa vida, tanto ao nos justificar quanto ao nos tornar novas pessoas Nele?

Vocês podem beber o Meu cálice

Leia Marcos 10:32-45. O que revela a contínua falta de conhecimento dos discípulos quanto à missão de Jesus e ao significado de segui-Lo?

À medida que Jesus Se aproximava de Jerusalém, revelava aos discípulos o que aconteceria lá. Esse não era um cenário em que eles acreditassem ou sobre o qual desejassem ouvir. É impressionante quão específico Jesus foi a respeito de Sua morte e ressurreição. Mas, quando não queremos ouvir uma coisa, é muito fácil ignorá-la.

Aparentemente foi isso que Tiago e João fizeram ao se dirigirem a Jesus com um pedido. Jesus, com razão, pediu mais detalhes, e eles responderam que desejavam sentar-se à Sua direita e à Sua esquerda na glória. É fácil criticar o pedido deles como completamente egocêntrico. Mas aqueles dois homens se dedicavam ao ministério de Jesus, e o desejo deles provavelmente não era de natureza totalmente egoísta.

Jesus procurou aprofundar a compreensão deles exatamente sobre o que estavam pedindo. Ele perguntou se poderiam beber o Seu cálice ou serem batizados com o Seu batismo. O cálice era o sofrimento que Ele experimentaria no Getsêmani e na cruz (Marcos 14:36), e o Seu batismo seria Sua morte e sepultamento (Marcos 15:33-47) – esses eventos são paralelos ao Seu batismo, registrado em Marcos 1.

Tiago e João, no entanto, não perceberam isso. De modo leviano, responderam que eram capazes. Jesus então profetizou que eles beberiam do Seu cálice e seriam batizados com o Seu batismo. Tiago foi o primeiro apóstolo a morrer mártir (Atos 12:2). João foi o que viveu mais tempo entre os apóstolos e foi exilado em Patmos (Apocalipse 1:9). Mas Jesus indicou que lugares de glória são estabelecidos por Deus.

Os outros discípulos reagiram à petição de Tiago e João muito bem. A mesma palavra para “indignação” (“indignar-se, ficar irado”), é usada em Marcos 10:14 e 41

Jesus ensinou que os governadores usam o poder para obter vantagem. Porém, no Reino de Deus, o poder é usado para edificar e servir aos outros. Jesus era o primário a praticar esse padrão: como o Rei do Reino de Deus. Como? Dando a própria vida como resgate – mas não era isso que Seus seguidores esperavam ouvir.

O que significa ser ‘’servo’’? Você revela esse princípio ao interagir com as pessoas?

O que você quer que Eu faça?

Leia Marcos 10:46-52. Como Bartimeu reagiu à chegada de Jesus?

Até esse ponto no evangelho de Marcos, com poucas exceções, Jesus dizia às pessoas que não contassem a ninguém sobre Seus milagres e sobre quem Ele era. Nesse relato do texto de hoje, quando Bartimeu ouviu que se tratava de Jesus de Nazaré, começou a gritar: “Jesus, Filho de Davi, tenha compaixão de mim!” (Marcos 10:47). Mantendo o tema da revelação do segredo, presente no Evangelho de Marcos, a multidão assumiu o papel de quem pedia silêncio enquanto tentava, sem sucesso, acalmar o mendigo barulhento.

Mas Bartimeu não se intimidou e gritou ainda mais alto (Marcos 10:48). Suas palavras eram uma confissão de fé em Jesus como o Messias e uma expressão da certeza de que Ele podia curá-lo. O título “Filho de Davi”, na boca de Jesus, envolvia dois conceitos: o retorno de um rei ao trono de Israel (Isaías 11; Jeremias 23:5, 6; 33:15, Ezequiel 34:23,24; 37:24; Miqueias 5:2-4; Zacarias 3:8; 6:12) e a ideia de que esse personagem realizaria curas e expulsão de demônios.

Jesus parou e pediu que chamassem o cego. É interessante que o homem, ao se aproximar de Jesus, atirou a capa para o lado. Neste tempo, os cegos ocupavam a parte inferior da sociedade, juntamente com as viúvas e os órfãos. Estavam abaixo do nível de subsistência e enfrentavam perigo real. A capa representava a segurança do homem. Deixá-la para trás significava que ele tinha fé que Jesus o curaria.

Jesus não o decepcionou. Todos que iam a Ele em busca de ajuda eram ouvidos. Cristo fez a mesma pergunta que havia feito a Tiago e João: “O que você quer que Eu lhe faça?” (Marcos 10:36, 51). Sem hesitar, o cego pediu a Cristo que lhe devolvesse a visão, e o Mestre fez imediatamente. Então o homem começou a seguir pela estrada.

Essa história de fé, providenciada na seção de discipulado em Marcos, será lembrada como um encorajamento e apoio para a história da cura de outro homem cego em Marcos 8:22-26. As duas histórias ilustram que o discipulado às vezes começa com a falta de visão de novos olhos, às vezes não claramente. Bartimeu, mas sempre seguindo Jesus no caminho.

Você já gritou como Bartimeu? O que aprendeu com essa experiência?

Estudo Adicional

"Leia, Ellen G. White, O Desejado de Todas as Nações, páginas 409-413 (“O Mestre e os pequeninos”), páginas 414-417 (“O jovem que tinha quase tudo”).

“Jesus sempre amou as crianças. Aceitava o inocente afeto e o amor espontâneo e sincero delas. O grato louvor de seus lábios puros era como música aos ouvidos de Cristo e renovava Seu espírito quando oprimido pelo contato com pessoas astutas e hipócritas. Em qualquer lugar onde o Salvador estivesse, Seu rosto amável e Seus gestos suaves e bondosos conquistavam a confiança dos pequeninos” (Ellen G. White, O Desejado de Todas as Nações [CPB, 2021], página 409).

“Para os que, como o jovem rico, têm altas posições e grandes riquezas, talvez pareça sacrifício grande demais abandonar tudo a fim de seguir a Cristo. Mas essa é a mesma condição para todos os que quiserem se tornar Seus discípulos. Nada menos do que obediência pode ser aceita. A entrega do próprio eu é a essência dos ensinamentos de Cristo. Às vezes, a linguagem usada por Ele pode parecer autoritária, porque não há outro modo de salvar as pessoas a não ser removendo as coisas que, mantidas, corromperão todo o ser” (O Desejado de Todas as Nações, página 417).

Questões para discussão:

 Como ajudar as crianças e os jovens a permanecer ligados a Cristo e à igreja? Por que é tão importante que façamos isso?

 Alguns dizem que não se importam com dinheiro. Isso não é verdade. Todos se preocupam com dinheiro, e isso não é errado. Qual é, então, o problema com o dinheiro, e que cuidado devemos ter em nossa relação com ele?

 Se Jesus perguntasse: ‘’O que você quer que Eu faça?’’, o que você responderia ao Mestre?

 Pense no texto de Marcos 10:43-45. Como aprender a servir em vez de ser servido? O que isso significa quanto á maneira de viver e interagir com as pessoas?