Xamã Desnorteado, Parte 2

Por Andrew Mcchesney

O pai descansou vários dias na casa da filha, Divya, no Nepal. Ele estava exausto de seus empregos como operário da construção civil e xamã.

Meu pai observou com interesse quando o pastor Adventista do Sétimo Dia da igreja de Divya veio visitá-lo e trouxe consigo vários membros da igreja.

Então o pastor abriu uma Bíblia e leu o convite de Jesus: “Vinde a mim, todos os que estais cansados e oprimidos, e eu vos aliviarei” (Mateus 11:28). O pai sentiu um desejo em seu coração de conhecer esse Deus. Ele queria descansar. Ele ouviu enquanto eles cantavam diversas músicas sobre o novo Deus de sua filha, Jesus.

Então o pastor leu João 3:16: “Porque Deus amou o mundo de tal maneira que deu o seu Filho unigênito, para que todo aquele que nele crê não pereça, mas tenha a vida eterna”. O coração do pai foi tocado. Ele nunca tinha ouvido falar de um Deus que tivesse dado Seu único Filho para salvar a humanidade. Ele percebeu que não havia necessidade de sacrifícios de animais porque Deus enviou Seu Filho como o sacrifício final de todos os tempos.

Depois que o pastor saiu, o pai pediu uma Bíblia a Divya. Ele queria ler esses dois versículos por si mesmo. Mas quando ele olhou, não conseguiu encontrá-los.

Divya também não conseguiu encontrá-los, então ligou para o pastor. Ele mostrou como encontrar os versos. Meu pai ficou encantado e começou a ler a Bíblia diariamente. No Sábado, ele foi à igreja com Divya e sua esposa, que havia sido curada de sua doença misteriosa depois que Divya orou. Papai não entendia nada na igreja ou na Bíblia. Mas ele pegou a Bíblia quando deixou mamãe com Divya e voltou para casa, numa cidade vizinha, pouco tempo depois.

Em casa, voltou a trabalhar como xamã e pedreiro durante o dia. À noite, ele lia a Bíblia. Com o passar dos meses, seu desejo de adorar espíritos desapareceu. Ele decidiu deixar a profissão de xamã.

“Minha vida é diferente”, disse ele aos habitantes da cidade. “Eu não quero fazer esses rituais.”

Os habitantes da cidade ficaram furiosos quando souberam que meu pai havia se tornado cristão. Eles o acusaram de trair seus ancestrais. Papai não se importou. Ele tinha certeza de que havia encontrado o único Deus.

Hoje, Pai e Mãe são Adventistas do Sétimo Dia ativos. Pai, cujo nome completo é Krishna Lama, tem 66 anos e é diácono.

O Poder da Palavra

Você já perdeu algo de grande valor emocional? A maioria das coisas neste mundo pode ser substituída, mas alguns itens são simplesmente insubstituíveis. Pense em um presente sentimental de alguém especial, uma fotografia nostálgica da infância ou talvez uma lembrança de uma viagem memorável. Quando um item assim se perde, é como se um pedaço de nossa vida estivesse faltando.

De muito maior significado do que qualquer item perdido é a crise de perder uma pessoa. Quando pessoas desaparecem, todos os esforços são feitos para encontrá-las. Parece não haver limite para o tempo, dinheiro e recursos que as pessoas estão dispostas a gastar para encontrar um ente querido desaparecido. Muitos pais sentem o pânico de perder subitamente de vista seu filho pequeno. Felizmente, a criança muitas vezes apenas vagou pela rua ou virou a esquina e é rapidamente encontrada.

Minha esposa e eu experimentamos esse pânico durante um acampamento. Estávamos ocupados conversando com pessoas, e de repente nosso filho de dois anos desapareceu. Corremos para o lago próximo, temendo que ele tivesse caído na água. Logo muitos outros acampantes se juntaram à nossa busca. Apenas alguns minutos depois, encontramos nosso menino calmamente passeando por uma das outras salas lá em cima. Sentimos um enorme alívio e alegria no momento em que o encontramos.

Essa experiência não é nova para nós no mundo moderno. Jesus cativou Seu público ao contar-lhes uma história sobre um filho perdido — na verdade, dois filhos, ambos tornados perdidos por suas escolhas. Essa parábola coloca o coração do evangelho em plena exibição, pois encontramos um Deus em busca da humanidade. Jesus veio para buscar e salvar o perdido, e isso inclui cada um de nós.

Chamado ao Arrependimento

As parábolas que Jesus contou não são apenas histórias interessantes; elas têm o poder de nos transformar, como sugere nosso título geral deste trimestre. Para que essas histórias nos transformem, precisamos nos ver nelas — o que não é difícil em Lucas 15. Na parábola do filho pródigo, o filho titular sabia que estava perdido e conhecia o caminho de volta ao seu pai, mas hesitou em retornar. Cada um de nós já deixou o Pai em algum momento, e muitos hesitam em retornar por várias razões.

No final das contas, é Deus quem nos encontra onde quer que estejamos. Ele nos encontra e nos atrai para Si mesmo. Quando o pai viu seu filho desgarrado ao longe, correu até ele, abraçou-o e beijou-o. Isso era inédito na cultura onde Jesus contou essa história. Em uma cultura de honra onde o desrespeito aos pais não era tolerado, um longo processo seria necessário para que o filho se redimisse.

O filho esperava uma resposta severa de seu pai e preparou um discurso sugerindo que poderia ser um servo em vez de um filho. Ele acreditava que, se tentasse com bastante empenho, poderia reconquistar o favor de seu pai. O filho ficou surpreso e emocionado com a ternura e compaixão de seu pai. Seus pecados foram perdoados, e ele foi restaurado como filho. Oh, a profundidade do amor e misericórdia de Deus para com os pecadores!

Esta parábola revela a importância do arrependimento, que é um chamado para mudar de direção. O verdadeiro arrependimento envolve tristeza pelo pecado e desejo de mudança de coração. Ele é bidimensional: afastar-se do pecado e voltar-se para Deus. A verdadeira conversão não é apenas modificação comportamental. É uma transformação profunda do coração, enquanto dependemos de Deus para fazer em nós o que não podemos fazer por nós mesmos. A bondade de Deus nos conduz ao arrependimento (Romanos 2:4); ela nos atrai para Si mesmo. A mudança genuína ocorre quando respondemos ao amor de Deus e aceitamos pela fé a nova identidade que nosso Pai celestial nos dá.

Nada podia conter a alegria do pai quando recuperou seu filho, pois este estava morto em termos de relacionamento, mas voltou à vida. O evangelho é a boa notícia de que em Cristo podemos passar de estarmos espiritualmente mortos em transgressões e pecados para estarmos vivos Nele! Não importa o quão longe tenhamos nos afastado, Cristo recebe com alegria cada pessoa que deseja reconciliação e um novo começo.

Dois Filhos Perdidos

Essa história é conhecida como a parábola do filho perdido, mas poderíamos muito bem chamá-la de parábola dos filhos perdidos, no plural. À primeira vista, esses dois homens parecem muito diferentes, mas têm semelhanças marcantes.

O filho mais velho era um filho leal que continuou a servir seu pai enquanto seu irmão mais novo estava ausente. Quando soube do retorno de seu irmão e da festa de celebração, ele se recusou a participar das festividades. Estava furioso. Seu pai deixou a festa para argumentar com ele, mas observe como o filho mais velho resistiu: "Eis que há tantos anos te sirvo, sem nunca transgredir uma ordem tua" (Lucas 15:29). O filho mais velho se sentia merecedor e superior por causa de seus anos de serviço. Seu pai respondeu dizendo: "Filho, tu sempre estás comigo, e tudo o que é meu é teu". Infelizmente, o filho mais velho não estava ciente do relacionamento que poderia ter desfrutado o tempo todo. Às vezes, passamos pelos rituais da religião sem estar conscientes das bênçãos disponíveis.

O filho mais velho não se rebelou contra seu pai como seu irmão mais novo havia feito, mas se considerava um servo. Em sua mente, o relacionamento deles era como um contrato. Ele pensava: "Eu servi; portanto, mereço uma recompensa". Isso soa familiar, não é? É o que seu irmão mais novo propôs para si mesmo quando retornou. Ambos os filhos tinham uma compreensão distorcida de seu relacionamento com o pai. Ambos queriam a riqueza e o status do pai. Um buscava isso saindo de seu pai, enquanto o outro buscava alcançar isso permanecendo com seu pai. Um buscava ganhar controle quebrando as regras, enquanto o outro buscava ganhar controle mantendo as regras.

Jesus estava ilustrando dois tipos de perdição: podemos evitar e resistir a Deus por meio da imoralidade ou da irreligião, mas também podemos evitar e resistir a Ele por meio da moralidade e da religião se não tivermos um relacionamento pessoal com Ele. O pecado muitas vezes é encoberto pela autojustiça. Infelizmente, muitos cristãos seguem os passos do irmão mais velho nesta parábola. Não podemos usar Deus simplesmente para conseguir o que queremos. Ao contrário, devemos conhecê-Lo e construir um relacionamento com Ele. Devemos obedecer a Deus não por causa do que recebemos, mas por causa de quem Ele é. O pecado do filho mais novo é fácil de ver, e Jesus mostra a obra redentora em sua vida. No entanto, Ele nos deixa perguntando sobre o irmão mais velho. A parábola é um suspense; nunca descobrimos se ele participou da festa. Esse final ambíguo enfatiza que Deus está implorando a todos nós que venhamos para a festa. A história deveria nos deixar examinando nossos próprios corações.

Momento de Reflexão

Se a gente vivesse na época de Jesus, que tipo de preconceitos demonstraríamos? Podemos responder a essa pergunta de acordo com o tipo de Cristão que somos hoje.

Talvez, como os fariseus, não víssemos com bons olhos as altitudes de Jesus. Talvez não aceitássemos nem mesmo a Ele como o Messias. Ou quem sabe a gente O acharia interessante, mas não o bastante para desistir de tudo e segui-Lo.

Poderíamos ser qualquer um.

Fato é que todos fomos pródigos em algum momento da vida, porque o somos por natureza. Já nos desgarramos como ovelhas e já nos perdemos como uma dracma.

É por isso que a lembrança do resgate de Cristo nos mantém em estado de gratidão a Deus e misericórdia aos outros. Além disso, nos dá humildade para evitar que sejamos como o irmão mais velho do filho pródigo, cuja obediência era cega e não por amor.

Esse é o clássico caso daquele que está perdido mesmo que nunca tenha saído da casa do Pai, daquele que pensa que o Pai lhe deve algo; que não se reconhece como perdido, e, portanto, não precisa de perdão.

Sobre a compreensão do arrependimento, compare a sua percepção com os seguintes textos: Romanos 2:4; Isaías 55:7; Isaías 44:22; Salmos 103:11-18; Zacarias 3:1-5; João 6:37-40; João 15:15, 16.

► Qual é a relação das passagens com o texto-chave (Lucas 15) da lição desta semana?

O Amor de Deus e os Perdidos

Lucas 15 começa nos dizendo que "todos os publicanos e pecadores se aproximavam de Jesus para o ouvir. E os fariseus e os escribas murmuravam, dizendo: ‘Este recebe pecadores e come com eles’" (Lucas 15:1, 2). Para trazer os perdidos de volta a Deus, Jesus os busca e os encontra onde estão. Ele se interessa pelos pecadores perdidos e se alegra quando um deles é encontrado.

Em outra ocasião, Jesus decidiu almoçar com um rico cobrador de impostos chamado Zaqueu (Lucas 19). Ele não apenas passou tempo com Zaqueu, mas influenciou tanto sua vida que ele começou uma nova jornada naquele mesmo dia. Jesus deixou claro que Ele veio a este mundo para buscar e salvar os perdidos.

As parábolas de Jesus em Lucas 15 revelaram a natureza de Seu ministério na terra, enquanto também expunham os pensamentos e ações falhos daqueles que professavam seguir a Deus, mas rejeitavam os outros. Os fariseus reclamavam da disposição de Jesus em se conectar com cobradores de impostos e pecadores. Se eles tivessem ouvido com atenção a segunda metade da parábola do filho pródigo, teriam reconhecido que Jesus estava falando sobre eles.

O irmão mais velho na história era uma representação marcante dos fariseus no tempo de Jesus. Eles se recusavam a se alegrar com os pecadores perdidos que eram encontrados, pois julgavam essas pessoas como indignas do favor e das bênçãos de Deus. Nesta parábola, Jesus revelou o interesse do pai tanto pelo filho pródigo quanto pelo irmão mais velho. No ministério terreno de Jesus, Ele procurava alcançar tanto os pródigos quanto os auto justificados. Jesus enfrentou uma crescente hostilidade dos líderes religiosos, mas isso não o impediu de continuar alcançando os excluídos e trazendo-os para o Seu reino.

As histórias em Lucas 15 são apenas um reflexo tênue do incrível esforço que o céu faz para buscar e salvar os perdidos. As narrativas apenas parcialmente transmitem o presente inestimável que o céu nos deu na pessoa de Jesus Cristo. Quando contemplamos a história do evangelho de Jesus, podemos ter confiança para o futuro.

"Que diremos, pois, a estas coisas? Se Deus é por nós, quem será contra nós? Aquele que não poupou seu próprio Filho, mas o entregou por todos nós, como não nos dará juntamente com ele todas as coisas?" (Romanos 8:31, 32). As parábolas de Lucas 15 nos lembram que Deus está disposto a fazer tudo e dar tudo para garantir nossa salvação.

Volte para o Seu pai

"Ao longo de sua juventude inquieta, o filho pródigo via seu pai como severo e austero. Como mudou sua concepção dele agora! Assim, aqueles que são enganados por Satanás veem a Deus como duro e exigente. O consideram como alguém que vigia para denunciar e condenar, como alguém relutante em receber o pecador enquanto houver uma desculpa legal para não ajudá-lo. Sua lei é vista como uma restrição à felicidade das pessoas, um jugo pesado do qual estão contentes em escapar. Mas aquele cujos olhos foram abertos pelo amor de Cristo verá Deus cheio de compaixão. Ele não aparece como um ser tirânico e implacável, mas como um pai ansioso para abraçar seu filho arrependido. O pecador exclamará com o salmista: ‘Assim como um pai se compadece de seus filhos, assim o Senhor se compadece daqueles que o temem’ (Salmo 103:13).

"Que certeza aqui, da disposição de Deus em receber o pecador arrependido! Você, leitor, escolheu seu próprio caminho? Você se afastou muito de Deus? Você procurou se banquetear com os frutos da transgressão, apenas para descobrir que eles se transformam em cinzas em seus lábios? E agora, com seus recursos gastos, seus planos de vida frustrados e suas esperanças mortas, você se senta sozinho e desolado? Agora, aquela voz que tem falado ao seu coração por tanto tempo, mas à qual você não quis ouvir, vem até você clara e distintamente, ‘Levanta-te, e sai; porque este não é o teu descanso; porquanto está contaminado, e destruirá com amarga destruição.’ (Miquéias 2:10). Volte para a casa de seu Pai. Ele o convida, dizendo, ‘Volta para mim, porque te remi.’ (Isaías 44:22).

"Não ouça a sugestão do inimigo para ficar longe de Cristo até que você se torne melhor; até que você seja bom o suficiente para vir a Deus. Se você esperar até então, nunca virá. Quando Satanás aponta para suas vestes sujas, repita a promessa de Jesus, ‘Aquele que vem a mim de maneira alguma o lançarei fora.’ (João 6:37). Diga ao inimigo que o sangue de Jesus Cristo purifica de todo pecado. Faça a oração de Davi sua própria oração, ‘Purifica-me com hissopo, e ficarei puro; lava-me, e ficarei mais branco do que a neve.’ (Salmo 51:7).

"Levante-se e vá para seu Pai. Ele o encontrará de longe. Se você der apenas um passo em direção a Ele em arrependimento, Ele se apressará para envolvê-lo em seus braços de amor infinito. Seu ouvido está aberto ao clamor da alma contrita. O primeiro desejo do coração por Deus é conhecido por Ele. Nunca uma oração é oferecida, por mais hesitante que seja, nunca uma lágrima é derramada, por mais secreta que seja, nunca um sincero desejo por Deus é acalentado, por mais fraco que seja, mas o Espírito de Deus sai ao seu encontro. Mesmo antes que a oração seja proferida ou o anseio do coração seja conhecido, a graça de Cristo sai ao encontro da graça que está operando na alma humana." (Ellen G. White, Parábolas de Jesus [CPB, 2022], P. 115, 116).